O momento do FC Porto | Os culpados

O FC Porto vive momentos difíceis. Não só pelos resultados desportivos e financeiros mas essencialmente pela divisão que existe no "Universo Porto". É óbvio que essa divisão advém dos resultados mas isso está ligado à gestão do clube. Primeiramente, no dinheiro disponível para contratações. Segundo, nas escolhas que se fazem com esse dinheiro. E terceiro, o objetivo final, produzir resultados desportivos. Resultados desportivos esses que permitem ao clube ter uma solidez financeira mais sofisticada e com isso permitir gerir melhor os seus ativos. O facto de estar atrasado em relação aos rivais na existência de uma Academia para aumentar os seus ativos, desportiva e financeiramente, prejudica e desequilibra a sua força. Mesmo sem academia, a formação do Porto rentabilizou cerca de 221,85 milhões de euros, com as vendas de Fábio Vieira (35M), Vitinha (41,5M), Dalot (22M), Diogo Leite (7,5M + 0,5M de taxa de empréstimo ao União de Berlim), Francisco Conceição (5M), Sérgio Oliveira (3M + 1M de taxa de empréstimo à Roma), Fábio Silva (40M), Jorge Fernandes (0,25M), Galeno (3,5M), Gonçalo Paciência (3M), André Silva (38M), Rúben Neves (17,9M), Mikel Agu (0,3M), Josué (0,7M), Tozé (1,5M) e Castro (0,2M + 1M de taxa de empréstimo), nos últimos 10 anos. Dos quais 218,45M na era de Sérgio Conceição. Em relação aos rivais, o Porto lucrou menos na formação do que o Sporting que atingiu cerca de 262,8M nos últimos 10 anos. Nesse mesmo período, o Benfica chegou aos 500M de vendas de jogadores de formação, mais do dobro do alcançado pelos dragões. A isto tudo acrescentamos o rendimento desportivo que cada jogador vendido ofereceu ao Porto. Fábio Silva, Diogo Leite, Jorge Fernandes, Gonçalo Paciência, Mikel Agu, Josué, Tozé e Castro são exemplos de terem oferecido pouco. Ter academia não é determinante para vender jogadores de formação mas é imprescindível para o Porto, de forma a conseguir competir com os seus adversários sobre a captação de jovens promessas e obter mais sucesso desportivo e financeiro. Isto é um dos pontos de discórdia dos adeptos do Porto. A falta de visão que a Direção teve ao atrasar-se em relação aos rivais e à maior parte dos grandes clubes europeus nesta questão. A diferença deste para outros anos, é haver um rosto que representa os adeptos insatisfeitos e que pode verdadeiramente quebrar o ciclo liderado por Pinto da Costa. Muitas vozes, algumas que curiosamente defendem atualmente o Presidente (Vítor Baía e João Koehler) , já foram dissonantes com a gestão do clube, mesmo quando este ia ganhando títulos. Pelo que não é novidade haver espaço para uma divisão tão grande. Contudo, essa divisão não se evidencia tanto em relação às exibições da equipa esta época. Alguns adeptos, associam as más exibições à incapacidade de Sérgio Conceição. Outros, consideram que o plantel é fraco. Uma grande fatia de adeptos acham que o problema desportivo do Porto esta época são as duas coisas. Aquilo que nos parece ser uma evidência é o facto de não ser um dos melhores planteis do Porto mas também não nos parece ser um dos piores. Não obstante, e fazendo fé nas palavras de Pinto da Costa e não desmentido pelo técnico português, Sérgio Conceição escolheu todos os jogadores que queria dentro do orçamento do Clube. Se é verdade que não tem o orçamento do Benfica, nem gastou tanto como o Sporting, também é verdade que não tem o mesmo orçamento que tem o Braga, o Vitória de Guimarães ou o Estoril, por exemplo. Por comparação à época passada, o Porto tinha Otávio, Uribe e Manafá, tendo feito 85 pontos na Liga Portuguesa. Este ano, saíram esses 3 jogadores, sendo que Otávio e Uribe tinham mais preponderância na equipa, tendo entrado Alan Varela (8M), Nico González (8,44M), Iván Jaime (10M), Fran Navarro (7M) e Otávio Ataíde (12M), e o Porto só fará no máximo 74 pontos. Foram gastos 45,44 Milhões de Euros em contratações. É certo que representa cerca de metade do valor que o Benfica gastou (90M). Mas em relação ao Sporting, provavelmente o futuro campeão nacional, a diferença entre os dois é pequena, uma vez que os leões gastaram 59,95M em transferências. Então de quem é a culpa da equipa jogar mal? Provavelmente, o mesmo culpado quando qualquer equipa joga mal, o treinador. Sérgio Conceição não pode fugir à regra e tem de ser chamado à responsabilidade pelos maus resultados do Porto. Não se pode socorrer da narrativa de ter um plantel fraco e "coitadinho do Conceição", ao mesmo tempo que dá luta ao Barcelona nos dois jogos, vence o Arsenal e goleia o Benfica por 5-0. É admissível perder um jogo com o Estoril numa época? Não devia acontecer mas sim, é. Agora, jogar 4 vezes contra o Estoril e perder 3 vezes? Não, não é admissível. Como não é admissível as várias expulsões estúpidas que condicionam o desempenho da equipa e que podemos relacionar com uma constante campanha contra os árbitros feita pelo treinador. Muitos dos adeptos são benevolentes com Conceição por aquilo que o técnico deu ao Porto. A devolução da mística e o regresso à vitória. E são essas as razões, associadas ao seu "portismo", que levam os sócios a questionarem pouco as suas opções. É bom lembrar que foram despedidos Lopetegui em Janeiro de 2016 a 4 pontos do líder Sporting, Nuno Espírito Santo que ficou em 2.º lugar a 6 pontos do Benfica em 2017 (e só cumpriu essa época), Jesualdo Ferreira, que tinha sido tricampeão e sai no ano a seguir em 3.º a 8 pontos do líder (quando tinha mais um ano de contrato). E até Vítor Pereira, que foi bicampeão, não lhe é renovado o seu contrato. Sérgio Conceição completa a 7.ª época no Porto e conquistou 3 títulos nacionais. Pelo 2.º ano consecutivo o Porto não é campeão nacional e luta por manter o 3.º lugar, que se arrisca a perder para o Braga, o Vitória ou para os dois. Não existem razões objetivas para que Sérgio Conceição permaneça no Porto, independentemente do vencedor das próximas eleições. A figura de Sérgio Conceição está diretamente relacionada com Pinto da Costa e a contestação das suas opções podem contribuir para a vitória de André Villas Boas. Interpretando os números das últimas eleições, Pinto da Costa venceu, naquele que foi o seu pior resultado, com 68,65% dos votos contra um candidato pouco conhecido, José Fernando Rio, que obteve 26,44%. Havendo agora um candidato mais forte e antevendo-se uma maior mobilização da massa adepta às urnas, é bem possível que o FC Porto tenha um novo Presidente ao fim de 42 anos de presidência de Jorge Nuno Pinto da Costa. Pelas razões financeiras, pela falta de visão de planeamento (exemplo da Academia), pelos vícios que o cargo gere após 4 décadas, pela estrutura em geral ser incompetente (scouting, equipa técnica e administração), pelo discurso antiquado, pelos resultados desportivos, o óbvio é que os portistas, no final deste mês, façam mudar o rumo do seu clube. Se Pinto da Costa vencer, terá de ser capaz de recuperar cerca de 30, 40 ou 49% de desmobilização de portistas, que ficarão muito descontentes com a sua vitória. Por sua vez, se for Villas Boas a vencer, não é garantido que os adeptos de Pinto da Costa se despeguem ao clube. Mas Aguardemos.