PS ou PSD não precisarão de apoio parlamentar explícito dos restantes opositores, mesmo sem maioria de direita ou de esquerda.

Já está definido. Portugal vai a votos no dia 10 de Março do próximo ano para definir a nova composição parlamentar que indicará o novo Primeiro Ministro. Os cenários são obviamente muitos e, nesta altura, bastante variáveis em função do desempenho dos candidatos nas campanhas e do perfil do novo secretário geral do PS, é difícil fazer previsões. Se por um lado, o PS está fragilizado pelas razões conhecidas, por outro existe um certo desacreditar no líder do PSD entre os militantes do partido. Por seu turno, Rui Rocha não é um líder galvanizador como João Cotrim de Figueiredo e também nunca foi testado em eleições. Sempre se dirá que aquele que for o novo líder do PS nunca foi a Legislativas mas não são coisas comparáveis. Quer PS, quer PSD têm uma estrutura diferente da IL que é um partido mais recente e ainda a definir-se. Já em relação a André Ventura, este parte com alguma vantagem pois fará uma campanha que é propicia ao perfil do CHEGA, acrescendo a uma tendência de subida constante nas últimas sondagens. Essas mesmas sondagens não indicaram uma grande diferença entre o PSD e o PS, numa fase já complicada do país com o aumento da inflação e os problemas nos setores da saúde, habitação e educação. Bem sabemos que temos novas variáveis. Por um lado, o Primeiro Ministro socialista demitiu-se por estar relacionado numa investigação que indicia tráfico de influências e corrupção, e isso será um dos maiores focos trazidos pela oposição. Por outro, o perfil do novo secretário geral do PS, que poderá se aproximar mais à esquerda ou ao centro. Se esse perfil for conciliador com os eleitores mais moderados, poderá ser uma arma forte contra um líder impopular como Montenegro. Ao invés, se resultar das eleições um secretário geral mais "agitador" como Pedro Nuno Santos e encostado mais à esquerda, poderá ter uma confiança parecida com aquela que os eleitores deram ao PS nas eleições em 2019, onde ganhou mas sem maioria absoluta ou até correr o risco de perder. Colocando a hipótese de o PSD vencer as eleições, não é previsível que as ganhem com uma grande diferença em relação ao PS. Quer se com isto dizer o quê? Quer ganhe um, quer ganhe outro, ambos vão precisar de apoio parlamentar de algum ou alguns partidos, em princípio. E como pode ser dado esse apoio? Em teoria, garantindo governabilidade aprovando os OE que se seguirão. E na prática será bem assim? Passamos novamente às previsões: O PSD ganha e junto com a IL não conseguem maioria parlamentar, colocando o CHEGA de fora. É possível garantir a formação de um Governo? A resposta é sim, embora não seja previsível que cumpra uma legislatura até ao fim. E nessa situação, o que poderia fazer o PS (tendo a esquerda minoria)? Bem, só poderia fazer 1 de 2 coisas. Ou o PS "deixa" o PSD governar com os apoios que tem, abstendo-se do Orçamento, ou cria novamente uma crise política (o que acontece atualmente em Espanha com a formação do novo Governo). Mas quererá o PS criar uma crise política em cima de outra que o envolveu diretamente? Não nos parece. Outro cenário: O PSD ganha as eleições, faz acordo parlamentar com a IL e continua a dizer que rejeita o apoio do CHEGA. Se o CHEGA aprovar ou abstiver-se do Orçamento, o PSD pode fazer alguma coisa? Luís Montenegro não quer o apoio do CHEGA mas isso não impede que o CHEGA possa no Parlamento querer dar esse apoio ao PSD e inviabilizar uma crise política. Tornando o CHEGA, o centro da discussão e decisão política e, por hipótese, até intitular-se como o partido da estabilidade política, pois apesar de não ter acordo com o PSD, aprova ou abstém-se do orçamento e faz com que o PSD continue no poder, "mantendo a esquerda longe". Fazendo agora, um raciocínio ao contrário. Se o PSD ganhar e não tiver condições de governabilidade por não aceitar o CHEGA e este também não lhe querer prestar apoio, o PS não será acusado de fazer cair o PSD por este não querer coligar-se ao CHEGA? Como se qualificaria a atitude do PS, aos olhos dos eleitores, se este não respeitasse o partido mais votado, que rejeitou governar com o apoio do partido "que mete medo às pessoas" e que por sua causa colocaria o CHEGA ainda mais na ribalta? Seria um erro grande do PS, não permitir ao PSD governar o país, nessa circunstância. Por hipótese, PS e PSD até podem firmar acordos pontuais de regime. Mas falta colocar a outra hipótese. A do PS ganhar as eleições, de forma semelhante ao que aconteceu em 2019, sem maioria absoluta. Como o PS ganhou as eleições e a esquerda levou "um tombo", o primeiro OE passou com as suas abstenções. No 2.º Orçamento, o PCP viabilizou o OE, abstendo-se, devido ao momento do Covid-19. E no 3.º OE, o Governo caiu com a rejeição da proposta. A leitura do PSD, em caso de derrota nas próximas eleições, não será certamente tentar criar instabilidade política ou querer recorrer-se do CHEGA para formar uma maioria de direita. Até porque se não ganhar nestas circunstâncias, Luís Montenegro terá a sua liderança em risco dentro do partido. Mesmo para o Presidente da República decidir, nunca optará por um entendimento parlamentar de maioria, ou seja, não repetirá a solução da esquerda em 2015. Por uma razão muito simples. As circunstâncias em 2015 são diferentes das de agora. Em 2015, a disputa fazia-se entre o líder da governação anterior e um novo líder do PS. Agora, a disputa será entre dois candidatos que nunca foram a votos. Os seus rostos nunca foram sufragados. Não há lugar a fazer uma leitura política comparada com o passado. A única leitura que se retira se Pedro Nuno Santos ou José Luís Carneiro tiver mais votos do que Montenegro e não reunir mais votos que a direita junta, é a de que os eleitores preferem essa personalidade. Não se retira daí que a direita castigou um desses candidatos. A mesma coisa que se for Montenegro a ganhar nessas condições mas com a esquerda junta vencedora, não se pode retirar daí que a esquerda quis castigar a direita. Significaria que o povo queria Montenegro. Bem diferente da leitura feita em 2015, de que a esquerda quis castigar a PAV (uma coligação que governava o país). Bem ou mal mas era uma das leituras possíveis dos resultados. Nos tempos atuais, essa leitura não se pode fazer nem para um, nem para outro. Pelo que foi explanado e em síntese, pode o PS ou o PSD, governar sem os apoios declarados da oposição? Sim. Nem o PS, nem o PSD terão dificuldades em formar um Governo se vencerem. Pois, em caso de derrota, nem o PS se quer responsabilizar por mais uma crise política, nem o PSD terá força e legitimidade para se opor a um governo socialista e fazer uma "maioria negativa" como em 2015, apoiando-se, necessariamente, no partido de André Ventura.