Rescaldo das eleições do PS: os números, o capital político e o futuro.

22-12-2023

Faz praticamente uma semana que o Partido Socialista escolheu o sucessor de António Costa e novo secretário geral do PS. Os militantes foram chamados a votar e elegeram Pedro Nuno Santos como o novo líder do partido. Foi uma adesão em massa, onde se verificou uma grande mobilização. Vamos então aos números. Estiverem inscritos 57993 militantes, dos quais votaram 39814. Fazendo as contas, constatamos uma adesão de 69% contra os 31% que não foram votar (abstenção). Mas existe uma leitura mais fina que nos mostra que a adesão foi realmente grande. Em Portugal continental, apenas em Braga e a FAUL (zona de Lisboa) viu-se uma adesão abaixo dos 70%. Em 15 distritos do país, a adesão esteve acima dos 75%, 11 deles acima de 80%. Onde os números fazem mudar a taxa de abstenção é exatamente fora do continente. Só no arquipélago dos Açores, num universo de 4677 militantes, votaram 487, tornando a abstenção na região de 90%. No arquipélago da Madeira a abstenção não foi tão elevada mas registou se "apenas" 65% de adesão. No círculo da Europa e fora da Europa, uma abstenção de 76% e 61% respetivamente. Só nos arquipélagos e no círculo da Europa e fora dele, registaram-se exatamente 6000 militantes que não foram votar. E são precisamente esses números que inflacionam a taxa de abstenção. Pelo que, desconsiderando os números dos Açores, verificaríamos uma adesão perto dos 80%. Para um partido que esteve no Governo durante 8 anos, depois de ficar manchado pelos casos judiciais, esta mobilização é realmente significativa. Entramos agora na discussão do capital político que cada candidato conseguiu obter com estas eleições internas. Pedro Nuno Santos, na noite da vitória, deu a entender que contava com José Luís Carneiro e Daniel Adrião para unificar o partido. Começando por Daniel Adrião, o militante socialista concorreu pela 4.ª vez a secretário geral do partido, tendo obtido cerca de 1% na votação, correspondente a 382 votos. Já José Luís Carneiro obteve mais de 36%, com 13390 votos, atrás de Pedro Nuno Santos com 21784 votos. Entre os dois candidatos há uma diferença de 8394 votos. Se Daniel Adrião não retira muito capital político dentro do partido dada a fraquíssima votação, o militante de Baião, pode não dizer o mesmo. Em praticamente 3 semanas, José Luís Carneiro conseguiu capitalizar muitos apoios. Houve pouco tempo para o socialista conseguir cativar o voto. E aqui chegados, voltamos aos números. Só fora de Portugal Continental, "perderam-se" 6000 votos. Se contabilizarmos o Porto e Braga juntos, somam-se mais 5226 militantes que não foram às urnas. Será que com mais tempo, José Luís Carneiro conseguiria convencer os mais de 11000 militantes que abdicaram do voto, só nessas regiões/círculos? A resposta parece ser óbvia. Pedro Nuno Santos vem trabalhando o partido desde as bases e sabia-se que mais tarde ou mais cedo concorreria a secretário geral. Mas todos estes votos em Pedro Nuno Santos teriam margem para aumentar face ao decurso do tempo da campanha ou os votos que este teve foram o máximo que ele poderia atingir? Cremos em achar, com mais probabilidade, esta última hipótese. E assim sendo, José Luís Carneiro teria verdadeiras hipóteses se não houvesse este enquadramento político, com eleições à porta. Resta-nos prever o futuro. O que será este PS se ganhar as eleições e o que será se perder? Colocando no horizonte de que nenhum partido vai ter maioria absoluta, nem nenhum conseguirá assegurar uma governação que dure toda a legislatura, sabemos que teremos novamente eleições brevemente. Se o PS vencer as eleições, Pedro Nuno Santos terá politicamente estabilidade para liderar o partido até às próximas legislativas. Enquanto o PS estiver no poder, a sua posição dentro do partido não vai ser questionada. Contudo, existem fenómenos políticos que alteram este quadro rapidamente. As eleições autárquicas podem romper com possíveis acordos e terão uma leitura política sobre a governação feita até esse momento. De recordar que as autárquicas são em 2025 e culminarão com um encerrar de ciclo, dado a que terminam muitos mandatos pela sua limitação imposta por lei. Ou seja, mesmo que o PS ganhe e governe, pelo menos, até esse momento, as autárquicas serão o barómetro para os partidos da esquerda ou da direita romperem com possíveis acordos parlamentares. Imaginemos o seguinte cenário: O PS perde entre 20 a 30 câmaras e perde as eleições na contabilização geral para o PSD, havendo uma queda dos partidos à esquerda dos socialistas. Neste cenário, em que o PSD perde as legislativas e "deixa passar" o Orçamento de Estado do PS (Luís Montenegro afirmou que só governava se ganhasse pelo menos por um voto, e tendo em perspetiva que a esquerda não terá maioria parlamentar), o líder do PSD, fará certamente cair o Governo de Pedro Nuno Santos. E se isso acontecer, teremos novamente a liderança do socialista em discussão? Parece que sim. Se governar até 2025 e levar um "tombo" grande nas autárquicas, o PS vai perder apoios parlamentares, venham eles de onde vierem. Mas isto tudo, é numa perspetiva de vitória no próximo dia 10 de Março. E se perder já? É evidente que não teve tempo para liderar o partido e não será diretamente responsável pelo resultado. A mesma coisa de que se perder logo a seguir as eleições europeias que se realizam apenas 3 meses após as legislativas. O estranho seria ganhar as europeias depois de perder as legislativas. Pelo que, podemos concluir que a liderança de Pedro Nuno Santos, em princípio, só poderá ser questionada no fim do seu mandato enquanto secretário geral do PS daqui a 2 anos. Em termos de calendário político, as diretas no PS deverão ser realizadas pouco logo após as autárquicas. Ou seja, teremos autárquicas em meados de Setembro de 2025 e as diretas do PS em Dezembro do mesmo ano. Fazendo uma analepse no presente artigo, terá José Luís Carneiro capital político para fazer frente a Pedro Nuno Santos numas novas eleições internas? Tendemos a achar que sim. Por várias razões. Se o PS ganhar as eleições e governar Portugal até 2025, teremos um partido ainda mais exposto do que está agora, contando com 10 anos de governação. Mediante o fim de ciclo em muitas câmaras socialistas, a corrida aos lugares vão aparecer em massa e vão criar mais divisão interna, provavelmente utilizando como bandeira a escolha do apoio que deu nestas eleições realizadas no passado fim de semana. Pelo que, não é nada líquido (antes pelo contrário) que o PS vença as autárquicas. Por outro lado e para finalizar, enquanto Pedro Nuno Santos liderar o país ou a oposição, José Luís Carneiro pode fazer o "trabalho de terreno" e junto dos militantes, de forma informal, reunir mais apoios. Tudo dependerá do seu posicionamento político que se aproxima. Para já, vai dando sinais de não querer integrar um Governo, ao querer desviar-se da pergunta quando questionado. Se for o homem escolhido para encabeçar a lista do PS às europeias, poderá continuar a fazer o seu caminho na mesma. A situação muda definitivamente se Pedro Nuno Santos quiser apresentar José Luís Carneiro como o candidato à Câmara Municipal do Porto e este aceitar. Mas esse, é um cenário pouco provável pois Tiago Barbosa Rodrigues está bem colocado na cidade invicta e foi um dos rostos mais visíveis nas ações de campanha do agora secretário geral do Partido Socialista. Aguardemos o desenrolar destas posições! 

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